Nery Porto Fabres

As vidraças quebradas das escolas e da democracia

Nery Porto Fabres
Professor
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As grandes coisas são realizadas com pequenos discursos e enorme dedicação e desejo pessoal. Normalmente essas realizações se dão no campo da iniciativa privada. Já as coisas públicas são tratadas com desdém, com irresponsabilidade política e, se há movimentação na mídia sobre investimentos públicos em determinada área, com certeza há políticos fazendo algo com interesse em obter lucro. Assim é a conduta das pessoas que estão à frente de projetos sociais com o dinheiro público. Entre o setor privado e o público, o que diferencia no resultado de alcançar êxito ou não numa tarefa social depende do grau de compromisso pessoal que os envolvidos dedicam ao trabalho.

E é exatamente o que está acontecendo na educação País afora. Os projetos que derivam da vontade pessoal de um idealizador empenhado em alcançar qualidade na área de ensino/aprendizagem sempre alcançam eficiência e eficácia. E eles vêm do campo particular, nunca da administração pública. E essa é a razão das universidades e escolas privadas estarem ganhando a maior nota em pesquisas avaliativas sobre o ensino.

No entanto, quando se trata de obrigatoriedade estatal, o Estado brasileiro não move uma palha para cumprir a máxima jurídica chamada "dignidade da pessoa humana". E não move os braços sem que uma ação judicial provocada impetre peça jurídica de "obrigação de fazer". Parece que o Estado ignora que não existe cafezinho de graça, ignora que o dinheiro não é do governante. Ora, o dinheiro do Erário (nome próprio dos cofres públicos, por isso em letra maiúscula) não vem do bolso do governante e sim dos impostos, tributos, taxas e demais obrigações ao contribuinte para custear os serviços essenciais a este povo pagador. Então, essa conversa mole de que o governo vai injetar mais dinheiro na educação é uma palhaçada. O dinheiro que ele diz "injetar" foi o contribuinte (povo) que tirou da boca do próprio filho para colocar na mão do representante que é seu procurador legítimo (governo) para devolver a seu filho em forma de educação. E isso ocorre também com o tributo pago para a saúde, moradia digna, infraestrutura. E isso tem de ser dito na mídia com mais frequência.

Porque causa a ideia de que os governos que dizem governar para o povo chegam ao poder com o dinheiro particular, e não com o dinheiro do próprio povo. E pior ainda, querem fazer parecer que é o partido do governante que dá o dinheiro para governar o povo. Enquanto esses homens da política ficam apenas nos discursos, as escolas estão com as vidraças quebradas, sem teto, sem paredes, sem carteiras, sem piso, sem água, sem luz e com a grama do pátio nas alturas e secas igual palha.

Nossas crianças e adolescentes estão jogados à própria sorte, não há interesse no governo em atender os suburbanos, os periféricos, os cidadãos que pagam a maior carga tributária no Brasil. E esses títulos horrendos de suburbanos e periféricos são criados dentro dos próprios governos.

Enfim, este abandono, estas terminologias negativas, este desinteresse, tudo é planejado. Quanto mais pobres e com capacidade cognitiva reduzida, maior será o controle da política para surrupiar os votos. E essa ideia de se ver de longe as escolas sucateadas, grama alta, vidros quebrados, sem teto, muros caídos, salas de aulas em precárias condições, faz parte de uma estratégia de campanha política. Essa gente que usa a necessidade alheia para encaminhar a candidatura a cargos de destaque precisa destas imagens que ficam no psicológico de quem vive nas periferias. Afinal, são essas pessoas que representam a maioria para decidir as eleições. Não são as pessoas conscientes que elegem os líderes no Estado de Direito, são justamente os necessitados de direitos. Ou seja, os eleitores pobres de todas as pobrezas, inclusive intelectual.

Portanto, essas vidraças quebradas não são vistas apenas nas escolas, porque acabam atingindo as vidraças da democracia. E é isso que nos faz pensar que ninguém leva a necessidade do povo a sério.

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